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quinta-feira, agosto 10, 2006


Indigente

A noite lisboeta mostra tudo o que ninguém gosta de ver, tudo o que revela quão errada está a nossa sociedade.
Passar por qualquer ponto da cidade lisboeta, à noite, é ter a certeza que se encontram prostitutas, sem-abrigo, toxicodependentes, miúdas de 13 anos na rua (ás 4 da manhã), bêbados…
E porque à prostituição me oponho mas já dei a minha opinião neste post, conto-vos agora que sempre, durante toda a minha vida, olhei para os sem-abrigo de uma forma especial. De uma forma especial e não de uma forma positiva. Pensava que eram uns parolos… Criticava-os por serem um peso morto, na nossa sociedade, e por escolherem ter aquela “vida”.
Ao passar por Santa Apolónia ou pela Praça do Comércio reparei neles com mais atenção. Reparei que há pessoas fracas, pessoas que lidam com os seus problemas de uma forma diferente à esperada pela sua sociedade, pessoas tristes, abandonadas, sem força de vontade, é certo… Mas pessoas que não prejudicam os outros… Pelo menos não prejudicam da mesma forma que as pessoas que fingem trabalhar e ganham milhares de euros sem fazer nenhum… Não prejudicam o país como os corruptos, como a indiferença instalada ou como os compadrios…
Enfim… Um ricaço de fato e gravata pode prejudicar mais o país do que um mendigo com roupas esburacadas… e é menos criticado! Quem são os indigentes, os miseráveis, afinal?..

Hoje, prefiro olhar para roupas esburacadas do que para um fato……
Foi só um desabafo… Um outro olhar.

:

  • o problema torna-se ainda pior quando as pessoas começam a ver os sem-abrigos como parte da paisagem, como um mal que não tem remédio, como se a pobreza de alguns fosse normal e fizesse parte do cenário. há uns meses atrás vi uma foto num jornal que retratava muito bem a nossa sociedade. era a foto de um mendigo e como imagem de fundo estava a publicidade de um banco. como é possivel que exista cada vez mais pobreza e ao mesmo tempo vermos o lucro dos bancos a engordarem? como é possivel que as pessoas pactuem com este tipo de sociedade? *suspiro*

    By Blogger s., at 11/8/06 01:08  

  • Concordo inteiramente contigo:) O problema está em olharmos só para o nosso umbigo... quando se vê um mendigo ninguém pensa em nada porque nao tem a ver consigo próprio.. é o egoísmo.. o problema é visto como "problema dos outros", não se tomam atitudes nem sequer se pensa no assunto.. por isso é que eu insisto que estamos numa sociedade miserável onde reina a indiferença.. é o sentimento que mais castiga uma sociedade.. "deixa andar".. :/

    aparte: para quem costuma ler o meu blog e está sp a dzr que eu estou sp a dizer mal de tudo.. leiam isto... o problema será o resto não fazer o mesmo.. só podemos evoluir se criticarmos para tentarmos mudar, melhorando.. a solução não é a indiferença..
    Digam bem, digam mal.. mas digam! =)

    By Blogger bEtA, at 11/8/06 02:04  

  • Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    By Blogger mariannegreen, at 11/8/06 16:23  

  • Os sem-abrigo sempre existiram. Aqui, ali, neste país, num continente diferente do nosso. Há os que se viram forçados a serem sem-abrigo e os que o são por opção. Os sem-abrigo por opção são normalmente pessoas cultas, inteligentes que por qualquer motivo pessoal tomaram a decisão de viverem assim. Havia um sem-abrigo "famoso". O escritor bracarense Sebastião Alba. Um génio que vivia na rua e que de vez em quando dormia no jardim da casa de um amigo médico. Morreu atropelado. Trágico fim para um escritor tão talentoso. Eu não vejo os sem-abrigo como pessoas menores, nem tenho pena. São pessoas que estão a passar por um período menos bom. Uma fase que irá passar. Bem, no caso dos toxicodependentes ou das prostitutas de rua é diferente. Um estado que perdura, que se arrasta...O mais importante é a integridade humana. Eu não diferencio os sem-abrigo das outras pessoas porque ao diferenciá-las estou a marginalizá-las. Conheci uma vez um rapaz que não tinha dinheiro nem emprego. Vivia na rua e dormia num jardim em frente à Câmara Municipal. Um dia ele arranjou emprego, um quarto, comprou roupas novas...e começou a pensar em arranjar namorada. A vida é preenchida por fases nem sempre brilhantes, nem sempre bonitas aos olhos dos outros. Muitos sem-abrigo cheiram mal, andam com roupas velhas porque não têm ninguém, não têm um tecto e porque os centros de apoio nem sempre estão disponíveis para os acolherem e fornecerem roupas limpas. Penso que ser sem-abrigo é algo a que todos estamos sujeitos. Se eu um dia ficar sozinha, sem emprego, sem amigos...e ficar sem dinheiro resta-me o tecto que é de todos: a RUA. A vida é assim mesmo. Uma enorme surpresa.

    By Blogger mariannegreen, at 11/8/06 16:26  

  • Obrigada pelo teu comentário, gostei mt:)
    Gostava de poder dizer isso, a sério que sim mas a verdade é que os marginalizo. Já não os condeno, como disse no meu post, mas continuo a vê-los como pessoas diferentes à margem da sociedade:/
    Mas sim, tenho perfeita noção que pode acontecer a kkr um ou não fosse a vida "preenchida por fases nem sempre brilhantes, nem sempre bonitas aos olhos dos outros" como disseste. Não vejo os sem-abrigo como pessoas menores mas não posso deixar de sentir "pena" por estarem a atravessar essa fase da sua vida menos bonita...
    Gostei mesmo de ler o que escreveste! obrigada :)

    By Blogger bEtA, at 11/8/06 23:33  

  • Betolini, não achas que algumas dessas pessoas simplesmente renunciaram á sociedade, e ao que a sociedade moderna impõe, com todos os seus padrões e etapas tidas como necessárias?
    Estudar, arranjar um bom emprego, arranjar casa, casar, ter filhos, reformar-se... Pedir empréstimos, ter Visas, ir de férias para o algarve, comprar um carro, pedir mais um empréstimo a um banco diferente para pagar o primeiro que tinham pedido...
    No fundo eles também têm uma sociedade, sendo que eles partilham dos mesmos objectivos, e dos mesmos problemas e esperanças uns dos outros, mas uma sociedade regida por outros valores.

    By Blogger Tyler, at 12/8/06 14:22  

  • Difícil é por vezes distinguir quem é indigente porque a vida assim o quis ou porque eles não querem fazer vida. Mas dói-me sair da diversão nocturna e ve-los a dormir. Penso em que sonham.

    *

    By Blogger Abssinto, at 14/8/06 00:47  

  • tyler: bem pensado! :) resposta à tua pergunta: sim, concordo plenamente. Quanto ao resto não sei.. eles podem partilhar uma realidade mas não formam uma sociedade, acho. Mas gostava de perceber melhor os seus valores e realidades.

    Abssinto: Boa pergunta... no que será que eles sonham? Agora deixaste-me a pensar.... obrigada:)

    By Blogger bEtA, at 14/8/06 01:56  

  • Há uns tempos li uma reportagem numa qualquer revista de domingo onde se falava de sem abrigo. A partir dai não os vi mais da mesma maneira.

    Se bem que muitos deles tenham encontrado ali a ultima paragem da vida, há também os outros que escolheram aquele modo de vida por não suportarem outro.

    Revolta-me ver como por vezes são tratados. Mas é a tal história, das palvras aos actos ainda vai um bocado. Já pensei em ajudar mas ainda não o fiz. E tu?

    By Blogger Sr. Jeremias, at 22/8/06 00:23  

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